O Programa de Pós-Graduação em Epidemiologia da UFPEL, que coordenou o estudo de prevalência populacional de anticorpos contra o SARS-CoV-2 (causador da COVID-19) em 9 cidades gaúchas, gostaria de esclarecer sobre a interpretação dos resultados recentemente divulgados.
(a) O resultado da pesquisa mostra uma fotografia da situação no final de março, pois o desenvolvimento de anticorpos detectáveis pelo teste usado leva até duas semanas; o número de casos notificados no estado era baixo naquela ocasião.
(b) O estudo deve ser considerado como uma linha de base para a curva de progressão da epidemia ao longo do tempo, e será repetido a cada 15 dias para descrever tendências futuras.
(c) Nossa estimativa de prevalência populacional apresenta resultados similares aos do estudo realizado na Áustria (prevalência de 0.33%), o qual é o único estudo em larga escala com amostragem de toda a população, comparável ao nosso. Testagens de voluntários na Coréia do Sul (2.1%) e Islândia (0.8%) também mostraram baixas prevalências nessa fase inicial da pandemia, apesar de que pesquisas em voluntários tendam a inflar a real prevalência, por incluir maior proporção de indivíduos sintomáticos.
(d) Nosso estudo documentou adesão relativamente alta ao distanciamento social implementado no Rio Grande do Sul durante o mês de março, o que provavelmente contribuiu para a baixa prevalência.
Portanto, os resultados de nosso estudo de linha de base são insuficientes para direcionar a tomada de decisões, de qualquer natureza, no momento atual. De acordo com a grande maioria das entidades nacionais e internacionais, e com a posição de epidemiologistas de todo o mundo, apoiamos a manutenção do distanciamento social, pelo menos até que novas evidências se tornem disponíveis.
Em breve, a UFPEL ampliará o estudo populacional para 133 cidades sentinela nas outras 26 unidades da federação, com apoio do Ministério da Saúde e do Instituto Serrapilheira. Estas pesquisas, repetidas a cada 15 dias em todo o país, serão essenciais para acompanhar a progressão da pandemia e direcionar políticas públicas. Salientamos também a importância de ampliar a testagem de casos suspeitos e seus contatos, para reduzir a disseminação da epidemia.